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Na semana em que se assinalou o Dia da Terra, o IMVF organizou o webinar (Des) Plastificação dos Oceanos: Nem tudo o que vem à rede é peixe, que decorreu na tarde de 23 de abril, aliando-se à iniciativa da Fundação Oceano Azul “O oceano é a nossa terra”.

Para saber mais sobre as causas e as consequências do lixo marinho e do seu impacto na cadeia alimentar, mais especificamente a poluição marinha resultante de plástico e os perigos do microplástico convidámos Eugénia Barroca, consultora da Sustainable Ocean Alliance (SOA), e Annalisa Sambolino, investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Polo Madeira). Duas especialistas e ativistas ambientais.Eugénia Barroca começou por contextualizar a temática do webinar mergulhando os participantes num oceano de plástico e apresentando-lhes as fontes, causas e consequências da poluição dos oceanos. A oradora enquadrou a produção de plásticos, reforçando que é importante não só responsabilizar a produção, como também compreender no âmbito das relações internacionais como é que a transferência dos produtos de plástico é realizada. Neste sentido, destacou o tipo de plástico mais produzido, o polipropileno, muito utilizado nas tampas de garrafas e garrafões, e salientou que grande parte do lixo marinho se reflete em material plástico oriundo do meio terrestre e do meio marítimo. No caso do material plástico proveniente do meio terrestre, destacou a incorreta gestão de resíduos do lixo público, que acabam por chegar aos oceanos. No caso do material plástico proveniente do meio marítimo, referiu que a principal fonte de contaminação é a pesca comercial e a navegação comercial.

Estima-se que 4,8 milhões a 12,7 milhões de toneladas de plástico vão parar ao oceano por ano, no entanto, o valor que é mais frequentemente referido é cerca de 8 milhões de toneladas anuais. Neste contexto, a oradora realçou a importância do trabalho científico para quantificar a dimensão do problema e referiu que só na Europa são deitados para o mar cerca de 150 mil a 500 mil toneladas de plástico anuais, o que corresponde a 66 mil camiões do lixo.

Tendo como base o Relatório da Ellen Macarthur Foundation de 2016, Eugénia Barroca partilhou a questão: Será que em 2050 teremos mais plástico no oceano do que peixe?. A oradora mencionou que esta já foi referida e mencionada em inúmeros artigos científicos, no entanto alertou para o facto de estes números representarem uma tentativa de sustentar a urgência da questão relacionada com a poluição dos oceanos, não sendo uma estimativa cientifica verificável, uma vez que que existem várias suposições e incertezas inerentes aos métodos utilizados para estimar tanto a população de peixes como para prever a quantidade de plásticos que estarão presentes nos oceanos em 2050. Contudo, a oradora reconheceu que não existe resposta exata e reforçou a urgência do problema.

São diversos os tipos de plástico que se distribuem no oceano e são várias as formas como se distribuem pela coluna de água, ficando alguns a flutuar e outros acabam por se afundar. Eugénia Barroca salientou os 5 novos continentes no mar, que constituem 5 ilhas no oceano onde há uma grande concentração de plástico com grandes consequências para os oceanos, sendo a maior ilha a Grande Ilha de Lixo do Pacífico que tem 17 vezes o tamanho de Portugal. A oradora fez referência à situação de Portugal relativamente à poluição dos oceanos, alertando que este é um problema que temos de resolver também a nível nacional e referindo que Portugal é um país muito suscetível a este tipo de poluição devido ao facto de estar situado numa importante rota de navegação comercial e de haver uma elevada densidade populacional no litoral do país. A oradora referiu ainda alguns impactos que a poluição proveniente do plástico tem na vida marinha, na biodiversidade e na própria economia.

Finalmente, e para terminar a sua apresentação neste webinar, a oradora partilhou alguns projetos e organizações que combatem este tipo de poluição, apelando aos participantes que sejam ativistas e que se envolvam nas questões políticas que englobam estas temáticas, convidando-os a assinar a campanha “Há mar e mar, há usar e recuperar”. Fica a conhecer esta campanha, disponível aqui, e torna-te um ativista.

Numa outra perspetiva, Annalisa Sambolino começou por explorar o impacto do microplástico na cadeia alimentar, explicando sucintamente o que são microplásticos, qual a sua origem e como estes são formados. Neste contexto, a oradora alertou que os microplásticos são demasiado pequenos para serem filtrados nas estações de tratamento de águas residuais, acabando no oceano, onde acabam por se acumular, chegando a todos os organismos marítimos ao longo de toda a coluna de água, podendo afetar todo o ecossistema marítimo.

A oradora alertou também que os microplásticos entram na cadeia alimentar global, começando por ser ingeridos por pequenos organismos marítimos, pois os microplásticos têm formas e tamanhos muito semelhantes ao plâncton, acabando por chegar às nossas mesas. Apresentou o exemplo da Grande Ilha de Lixo do Pacífico, onde a massa de microplásticos supera seis vezes a do plâncton. Mencionou ainda que vários estudos demonstram percentagens altas de seres vivos que acabam por consumir microplásticos, inclusive espécies que fazem parte da dieta portuguesa como a sardinha, o carapau, a cavala e os mexilhões.

A oradora salientou que os efeitos da ingestão de microplásticos são prejudicais para os humanos, devido à forte acumulação de produtos químicos do meio ambiente que os torna veículos de compostos tóxicos. Neste sentido, referiu que os poluentes orgânicos se “bioampliam” na cadeia trófica, à medida que são consumidos, sendo que os humanos, estando no topo da cadeia trópica, são os que ingerem mais microplásticos e, consequentemente, são os mais prejudicados. Destacou também que os microplásticos ameaçam a saúde de organismos marinhos e humanos, visto que muitos são desreguladores endócrinos, pelo que podem provocar doenças.

Annalisa Sambolino concluiu a sua apresentação, mencionando algumas das principais fontes terrestres de microplástico como pneus de carros e roupas sintéticas e expondo algumas propostas de possíveis soluções para combater o problema da poluição dos oceanos, nomeadamente, comprar e utilizar roupa com mais fibras naturais (como algodão, lã, seda e linho), reduzir o uso do veículo pessoal, escolher produtos de higiene pessoal que não contenham microesferas, evitar embalagens de plástico descartáveis, reduzir o consumo de peixe e promover a pesca sustentável.

O webinar terminou com um pequeno debate durante o qual os participantes tiveram oportunidade de colocar questões aos oradores sobre as suas intervenções. Questões que pode ver respondidas na gravação do webinar disponível aqui.

A poluição dos oceanos afeta a vida marinha, a saúde humana, o clima e a economia. Um dos grandes objetivos da campanha #GoEAThical – Our food. Our Future é sensibilizar e mobilizar os jovens europeus para a adoção de padrões de consumo sustentáveis e, assim, contribuir para a promoção do desenvolvimento mais justo, digno e sustentável. No mesmo sentido, um dos grandes objetivos do projeto People & Planet: A Common Destiny é consciencializar os jovens cidadãos/ãs da Europa sobre os desafios e consequências resultantes das alterações climáticaspara que, desta forma, eles se tornem agentes de mudança e mobilização na busca de um mundo mais sustentável.

Este webinar foi organizado no âmbito da campanha #GoEAThical – Our Food. Our Future e do projeto People & Planet: A Common Destiny, ambos financiados pelo programa DEAR (Programa de Educação e Sensibilização para o Desenvolvimento) da União Europeia.

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